Com mangas compridas e cabeça por rapar, o central sueco não impõe tanto respeito nem parece tão assustador, segundo Um Azar do Kralj, que ainda viu Cervi “com muitos poucos tiques de argentino em primeira época na Europa e vários de sul-americano em vias de ser despachado por 40 milhões”
EDERSON
Continua a intrigar os adeptos. Tem cara de lutador da UFC e um pé esquerdo capaz de enviar Connor McGregor para as urgências do São José, mas continua a insistir no futebol. Enquanto os colegas procuravam maioritariamente chegar à baliza adversária, Ederson foi evitando as investidas de um colectivo mal encarado de indivíduos de leste, como se as redes benfiquistas fossem o seu Palácio do Kebab. À hora em que escrevemos, o espaço aéreo ucraniano continuava encerrado na sequência de um pontapé de baliza seu.
NÉLSON SEMEDO
Não tendo ainda consultado as estatísticas do jogo, e não tencionando fazê-lo, ficaríamos ainda assim muito surpreendidos se Nelson Semedo não aparecesse num qualquer onze da semana. Vejam lá se não fazemos queixa à UEFA. Nélson Semedo iniciou a época com um futebol emocionalmente paralelo aos papéis de Forrest Whitaker, planou durante umas semanas na insipidez de um Will Smith, e começa finalmente a parecer-se com o Denzel Washington pretendido de um lateral-direito moderno, na medida em que interpreta sempre a mesma personagem - a de um futebolista ultra-confiante com fogo no cu - e quase nunca vai mal.
LINDELÖF
Aos 22 anos, Lindelöf prepara-se para tomar uma das decisões mais importantes da sua carreira. A vontade dos adeptos é clara: máquina zero. Agora só depende dele, mas já demos tempo suficiente àquele corte de cabelo. Pior: as mangas compridas a esconderem as tatuagens tornam-no quase tão intimidante como Cervi numa luta de rua. Felizmente, tinha dois sócios por perto - Luisão e Grimaldo -, caso contrário teria acabado com um sobrolho aberto.
LUISÃO
O pai da defesa benfiquista voltou a protagonizar um daqueles raros episódios na presente civilização, em que um cidadão brasileiro consegue ensinar a um sueco os mais básicos princípios organizacionais. O corte magistral aos 27 minutos mostrou-nos o segundo melhor dos Luisões (o melhor é o que fala inglês no Instagram), mas ele dirá que foi #deusnocomando ou qualquer coisa assim. Fica sempre a sensação de que para fazer boas exibições só precisa de evitar - durante 90 minutos - que o adversário se vire de frente para ele. Sempre que tal não é possível, é tendencialmente comido de cebolada.
GRIMALDO
Ao intervalo aceitou renovar até 2028 e, não surpreendentemente, no final da partida prolongou o vínculo até 2036, tendo a cláusula de rescisão sido estabelecida em dois Gelson e meio. Dá mundos ao mundo do futebol benfiquista, a atacar - Cervi é o seu novo BFF - e a defender. Não passou pela flash interview, mas se lá fosse diria apenas: “Yarmoquem?”.
FEJSA
Longe, muito longe vão os tempos em que o Benfica parecia ter contratado um UMM para percorrer o seu meio-campo em busca de adversários e bolas de futebol. Tem nome de Skoda, mas é hoje um verdadeiro Touareg. Pareceu sempre em casa, mais frio que a temperatura do ar, fazendo os ucranianos pareceram que estavam a defrontá-lo num daqueles estádios na Bolívia a 3 mil metros de altitude. Melhor em campo, pois claro.
PIZZI
Fez um excelente passe para Guedes no lance que deu penálti e é capaz ter sentido ciúmes do bromance entre Cervi e Grimaldo. O espanhol nunca pareceu tão apaixonado por Pizzi como pelo pequeno argentino. Segundo as redes sociais, a sua carreira continua a estar dependente do próximo passe ou marcação de canto, mas todos sabemos que não vai a lado nenhum. E ainda bem.
SALVIO
É oficial: o melhor Salvio está de volta. Marcou aos 8 minutos de penálti; não querendo viver acima das suas possibilidades, pediu calma aos colegas durante os festejos. É provável que se lesione, não sem antes melhorar ainda mais o seu rendimento e o valor do seu passe. Aproveitemos que a vida é curta.
MITROGLOU
Quase evitava o segundo golo do Benfica; felizmente Cervi conseguiu marcar na recarga. Nunca pensou vir a sentir tantas saudades de um homem da sua idade. Volta Jonas.
GONÇALO GUEDES
Guedes, Gonçalo Guedes. Licença para cavar penáltis. Foi mais um jogo com GG9 a contribuir objectivamente para a vitória, mas o miúdo não nos pareceu especialmente inspirado. Protagonizou uma bonita homenagem a Isaías, com 43 remates para a bancada e nenhum à baliza. Actualmente a deixar crescer a barba, que atravessa uma fase similar ao relvado de Alvalade na fase Bettencourt.
CERVI
Um dos melhores em campo. Atacou, defendeu, rematou, cruzou, chateou, entusiasmou, incomodou, jogou, fez jogar. Um metro e 23 centímetros de pura irreverência, com muitos poucos tiques de argentino em primeira época na Europa e vários de sul-americano em vias de ser despachado por 40 milhões. Esperamos um dia destes poder dizer neste espaço que gostaríamos de poder dizer aos nossos netos que vimos Cervi jogar.
JIMÉNEZ
Antes da lesão, o passe de Jiménez estaria, realisticamente, avaliado em, quê, uns 8 milhões? Com jeitinho… uns 10, vá. O seu regresso aos relvados ainda não dá para contar grande história, mas o que quer que venha a acontecer, terá de ser - de acordo com o calciomercato, o presidente e pessoas na internet - pelo menos, seis vezes melhor.
CELIS
Quando éramos mais novos fizemos uma visita a Campo Maior. A meio do caminho, a professora esqueceu-se de nós na estação de serviço. Imaginem fazer o mesmo ao Celis e bloquear o acesso às contas bancárias. São 4147 quilómetros entre Kiev e Lisboa. Quando ele regressar já o mercado reabriu.
ELISEU
Entrou em campo com um papel para entregar a Pizzi, dizendo "ONDE É QUE SE JANTA, MANINHO? TOU C'UMA GALGA".
Fonte;
http://tribunaexpresso.pt/um-azar-do-kralj/2016-10-19-A-decisao-capilar-de-Lindelof-e-a-homenagem-que-Guedes-prestou-a-Isaias--e-outras-coisas-que-Um-Azar-do-Kralj-viu-em-Kiev-
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