O Benfica está a um pequeno passo de concretizar um dos seus principais objetivos de médio prazo. No final de dezembro de 2018, o clube reportou ter atingido um património líquido (capitais próprios) de 100,9 milhões de euros, uma melhoria de pouco mais de 14,1 milhões de euros face a junho e que, a repetir-se neste semestre, permitirá concretizar o que a própria SAD definiu como propósito: “A perspetiva da Sociedade é manter esta tendência de recuperação e, a médio prazo, alcançar o objetivo do capital próprio superar o valor do capital social da Benfica SAD (115 milhões de euros).”
Mas enquanto o Benfica já coloca como fasquia o reforço do património líquido, os seus rivais mais diretos ainda persistem em situação patrimonial negativa, tendo fechado as contas do primeiro semestre da atual época ainda com passivos superiores aos seus ativos totais, ainda que já em tendência de recuperação. A grande diferença no percurso financeiro dos três é que, enquanto o Benfica tem vindo a acumular lucros de forma consecutiva desde 2014/15, Sporting e Porto continuam a oscilar anualmente entre perdas e ganhos.
Além do impacto dos resultados propriamente ditos, o Benfica também optou recentemente por limpar quase por completo quaisquer dívidas perante os bancos, tendo para isso decidido vender parte das receitas futuras dos direitos televisivos que cedeu à NOS — vendeu 108 milhões de euros que iria receber entre 2018/19 e 2022/23 por 90,8 milhões no imediato. Graças a este encaixe, os encarnados reduziram a dívida à banca de 125,5 milhões em junho de 2017 para 13,3 milhões de euros em dezembro último.
Esta redução da exposição à banca foi obtida através do reembolso antecipado do valor ainda em dívida relativo à construção do novo estádio (37,8 milhões) e pela liquidação de um programa de papel comercial de 57 milhões de euros, tudo movimentações com impacto direto no passivo do clube, já que apesar do recurso ao mercado de capitais ser uma constante, o total de empréstimos obrigacionistas manteve-se a rondar os 150 milhões de euros. Ou seja, apesar de o Benfica agora ver na emissão de obrigações a sua principal fonte de financiamento, estas não vieram substituir os financiamentos bancários.
A estes avanços no campo financeiro, o Benfica tem também conseguido juntar contributos significativos para as contas vindas do lado desportivo do clube. Além de um crescimento gradual das receitas correntes, também a presença constante na milionária Liga dos Campeões e os resultados positivos com a transação de jogadores a cada época desportiva têm alimentado a já referida constância de exercícios de resultado líquido positivo que, gradualmente, têm reforçado a autonomia do clube.
Por outras palavras, e como colocou Luís Filipe Vieira, em março de 2018: “Somos um clube totalmente livre e autónomo. Não estamos intervencionados pela UEFA, nem vivemos da boa vontade de créditos de última hora da banca.” Note-se a este respeito que no primeiro semestre da corrente época o Benfica conseguiu 103,1 milhões de euros em rendimentos operacionais sem contar com vendas de jogadores, mais 59,6% em relação ao período homólogo, numa “variação essencialmente justificada pelo aumento dos prémios distribuídos pela UEFA na Liga dos Campeões”.
Realidades diferentes vivem Sporting e Porto. Nos últimos dois exercícios completos (2016/17 e 2017/18), os azuis e brancos acumularam um prejuízo de 63,2 milhões de euros, vendo os seus capitais próprios negativos afundarem até aos 71 milhões, o que empurrou o passivo do clube até aos 470,5 milhões de euros, um crescimento de 72,4 milhões de euros de uma época para a outra “assente principalmente num aumento ao nível dos empréstimos bancários”. Ainda assim, e no primeiro semestre da corrente época, o Porto conseguiu reduzir o passivo para os valores de junho de 2017, em parte graças a um lucro de 7,2 milhões de euros no período — contra os 23,9 milhões de perdas entre julho e dezembro de 2017.
Neste campo, é de salientar que depois de violar as regras do fair play financeiro da UEFA, já que os resultados entre 2013 e 2016 foram deficitários, o Porto está obrigado a mostrar que é break even compliant no resultado agregado entre 2017/18 e a época de 2019/20. À conta desta exigência da UEFA os azuis e brancos têm em curso a “implementação de medidas que preveem a redução gradual das principais rubricas da estrutura de custos”.
Quanto ao Sporting, o clube oscilou entre lucro e perdas nos últimos dois anos, tendo lidado com um duro processo de reestruturação financeira que, à imagem do Benfica, levou o clube a antecipar receitas dos direitos televisivos. Mas, ao passo que os encarnados utilizaram o encaixe para abater dívida, oSporting precisou da mesma para reestruturá-la, ganhando tempo para, agora, iniciar um percurso de normalização das contas a médio e longo prazo, sendo esta estabilização da vertente financeira do clube uma das prioridades definidas pela administração de Frederico Varandas.
Os resultados do primeiro semestre do clube de Alvalade, com um lucro de 6,44 milhões, mas também a gradual resolução das rescisões contratuais com que foi confrontadono final da época passada, permitem antever que as próximas contas anuais do Sporting já evidenciem sinais claros de estabilização.
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